Sinopse: Em “Um Lugar Silencioso – Parte II”, logo após os acontecimentos mortais, até mesmo dentro de casa, a família Abbott precisa agora encarar o terror mundo afora, continuando a lutar para sobreviver em silêncio. Obrigados a se aventurar pelo desconhecido, eles rapidamente percebem que as criaturas que caçam pelo som não são as únicas ameaças que os observam pelo caminho de areia.
Direção: John Krasinski
Título Original: A Quiet Place Part II (2021)
Gênero: Terror | Thriller | Ficção
Duração: 1h 36min
País: EUA
Nada a Dizer
Sempre há muito mais informação a serem reveladas por trás de releases, notas de produção e pistas extraídas de entrevistas de elenco e produção. “Um Lugar Silencioso – Parte II” chegaria aos cinemas de todo o mundo poucos dias após o início de março de 2020, quando a pandemia de covid-19 nos trancou em casa tal qual uma criatura monstruosa que acabara de despertar. Foi trancado a sete chaves por mais de um ano, bem depois que a Warner deu um tiro n’água motivada pelo egocentrismo de Christopher Nolan em “Tenet” (2020) e já conhecendo as táticas dos grandes estúdios, de lançamento simultâneo de seus potenciais sucessos, permitindo que seus plataformas de streaming ganhassem maior aderência – maquiando os prejuízos impostos pelas bilheterias modestas dos últimos tempos.
A Paramount possuía um produto muito forte nas mãos, de uma relação intensa com as telonas. Foi a partir de sua grandiosidade e do desenho de som das salas que a campanha de divulgação de “Um Lugar Silencioso” (2018) fez a obra um dos maiores sucessos da empresa nos últimos anos. Das notas de produção do filme de três anos atrás temos a ideia abandonada de fazer da luta por sobrevivência da família Abbott uma história inserida no universo de Cloverfield – o que faria tudo bem menos interessante, posto que no contexto de necessidade de incluir novas histórias em sub franquias de universos paralelos da Sétima Arte.
Também sabemos que o cineasta só ousou levar o projeto adiante por motivação de Emily Blunt, sua esposa e protagonista dos dois longas-metragens. Sobre “Um Lugar Silencioso – Parte II” ainda não temos tantas notícias, mas aconteceu algo em seu desenvolvimento que fez o resultado final muito abaixo, sob todos os aspectos possíveis, da trama de origem tão marcante. O diretor confessou que não gostaria de se envolver com a sequência – e depois que faria o roteiro e não a direção. Acabou ficando com tudo.
A frustração ocorre mesmo que se considere o fato do sofá de casa e da tecnologia de nossas residências não chegarem perto da experiência possível de um cinemão. Algo atestado pela revisitação que fizemos da película de 2018, em crítica publicada em conjunto com esta. Se pensarmos que somos uma sociedade estabelecida há um ano e meio em um contexto de isolamento social (em graus diferentes, é verdade) e uma vivência apocalíptica pelo prisma pandêmico, o texto de Krasinski não foi pensado para nós. Éramos outros aqueles que reencontrariam a família, agora de apenas três pessoas, na despretensão de um final de semana no shopping – sem qualquer protocolo a ser respeitado.
Talvez as referências da prólogo, que acontece no dia 1 do ataque daqueles seres, seriam mais divertidas. Algo como “Guerra dos Mundos” (2005), sem a grandiloquência e o anseio por entretenimento de Steven Spielberg e mais com a dicotomia minimalismo x grandiosidade mencionada no texto do filme de 2018. Isso nos faria mais compreensíveis com o fato daquele grupo de pessoas agir com um instinto contrário ao natural do ser humano. Com uma correria organizada e poucos gritos, quase como se soubessem como aqueles monstros agem e a forma de se defender – soando inadmissível, ainda mais à luz do nosso “dia um“, quando não sabíamos ao certo quando um vírus invisível se comportava.
Deixar de lado as incongruências é fundamental para que a crítica e a experiência audiovisual não se tornem insuportáveis. Claro que a Regan de Millicent Simmonds e o Marcus de Noah Jupe pareceriam bem mais velhos no dia 474 – imediatamente após os acontecimentos do primeiro filme. Dito isso, o filme segue o mesmo rumo da simplicidade. Divide a história em três frentes. Marcus pisa em uma armadilha e está com um corte profundo no pé. Evelyn (Emily Blunt), no dia seguinte a dar à luz e ficar viúva, precisa reunir forças para encontrar provimentos médicos para curar o grave machucado do filho. Já Regan tomará para si a responsabilidade de buscar, ao lado de Emmett (Cillian Murphy), uma forma de se conectar com outras pessoas ou ocupar um território livre dos monstros.
Ao contrário de todos os aspectos que fizeram a obra original tão criativa, usando as representações na hora certa – sem sutilizas ou inocências, mas ao mesmo tempo sem exposições pouco inteligentes – o diretor não consegue ir além do vazio. De um fiapo, uma ideia, uma sombra do que fez a produção original tão instigante. Aqui as duas personagens femininas, mais uma vez, são os pilares da narrativa. O sentimento de culpa do dia anterior sofreu uma mutação e virou desejo de honrar a memória daqueles que se foram. Elas querem colocar um fim nas várias dores e fazer sua família encontrar a paz.
A questão é que a mesma premissa não foi o suficiente. A exploração de uma situação-limite é pouco envolvente e emocionante. Da mesma forma que “Um Lugar Silencioso”, a segunda parte também passa em um piscada, de forma rápida. Porém, não desperta o mesmo interesse. Insere pequenas crises mal trabalhadas, como as possibilidades de novas espécies de monstros, resultado de uma inquietude humana, do desejo de se dividir em grupos para tecer relações de poder (como na sequência que se passa no deque). Parece que Krasinski quer expandir o universo, mas refuga porque abandonaria a tática bem-sucedida da obra anterior. Lembra um pouco o que ocorreu em “Frozen 2” (2019) que, de tão na defensiva, se tornou quase uma colagem da animação que a antecedeu.
Tudo bem que estar perto de encontrar uma saída é parte do jogo de transformar a história em uma saga. “Um Lugar Silencioso – Parte II” vai, aos poucos, se parecendo cada vez mais com o trabalho de um realizador que não queria revisitar sua criação. Ou, pelo menos, não queria tão cedo. É a consequência de uma indústria que torna indiferente a criatividade, desloca as ampliações de seus orçamentos no marketing agressivo e só quer aproveitar uma onda. O público, afetivamente vinculado à surpresa da experiência anterior, se sente intimado a participar dessa festa anticlimática. Parecia que Krasinski sabia que essa festa viraria um enterro.
Veja o Trailer: