“Viúva Negra” está disponível no premier access do Disney+. Leia a crítica.
Sinopse: Natasha Romanoff “Viúva Negra” precisa confrontar partes de sua história quando surge uma conspiração perigosa ligada ao seu passado. Perseguida por uma força que não irá parar até derrotá-la, Natasha terá que lidar com sua antiga vida de espiã, e também reencontrar membros de sua família que deixou para trás antes de se tornar parte dos Vingadores.
Direção: Cate Shortland
Título Original: Black Widow (2021)
Gênero: Ação | Aventura | Thriller | Fantasia
Duração: 2h 13min
País: EUA
Olha Ela!
Primeira produção da Marvel a chegar na Apostila de Cinema (nenhuma foi lançada desde a criação do site), “Viúva Negra” foi realizada como forma de fazer justiça à personagem, peça importante no tabuleiro dos Avengers, e que não tinha um filme de origem até então. Com produção executiva da própria Scarlett Johansson, os acontecimentos do longa-metragem nos colocam entre “Capitão América: Guerra Civil” (2016) e “Vingadores: Guerra Infinita” (2018) e abre a Fase 4 do MCU. Antes, claro, aquele trauma de infância quase sempre fundamental na formação da personalidade de super-heróis.
Com tantos especialistas no assunto, em textos, vídeos, transmissões no Twitch, com seus finais explicados e relação entre uma mitologia decenal que envolve fãs apaixonados, parece que nunca resta muito a ser dito sobre os lançamentos da empresa. Desta vez a maior diferença é o formato de distribuição. Após atrasar seu calendário de lançamentos em quase ano – o que não tirou do circuito o hype pelo conteúdo da Marvel, pulverizando em três séries originais do streaming, a Disney o faz em formato híbrido – assim como ocorreu em “Raya e o Último Dragão” (2021) e “Cruella” (2021).
Chegando tanto nos cinemas como no chamado premier access do Disney+ (no Brasil ao custo de R$ 70 pela locação), os números internos da empresa atestam que a história de Natasha Romanoff arrecadou por este novo meio “mais de sessenta milhões de dólares” no primeiro final de semana – se somando aos quase cem e sessenta milhões na “boca do caixa” das bilheterias. A ver se: esses números são reais (por óbvio serão auditáveis, mas as outras estreias não tiveram nenhuma divulgação), se o peso da grife Marvel se sobrepõe às outras franquias da Disney e, principalmente, se quando o mundo estiver seguro – de Thanos à covid-19 – este hábito será incorporado ou abandonado.
Dito isto, é possível que “Viúva Negra“, enquanto produto, não ajude tanto neste processo. Seu prólogo concentra boa parte da ancestralidade da personagem. Nela, as meninas Natasha (Ever Anderson) e Yelena (Violet McGraw) se veem no meio de um plano de fuga de seus pais, Alexei (David Harbour) e Melina (Rachel Weisz). Ao som de “American Pie” e olhando uma partida de baseball pela janela do carro, os laços culturais da cultura norte-americana ficam para trás na Ohio de 1995.
Vinte e um ano depois, após a fidelidade a Steve Rogers reacender em face de Tony Stark em um incidente diplomático entre os heróis, a protagonista parte em busca de suas origens, o que envolverá o reencontro com o pai – que está preso – e com a mãe, exilada. A diretora Cate Shortland, australiana que dirigiu o bem recebido “A Síndrome de Berlim” de 2017, mostra, desde a persecutória sequência inicial, que buscará uma narrativa com um tom de violência um pouco acima da média para a Marvel. A cineasta assumiu o posto após Chloé Zhao, responsável por “Nomadland” (2020) preferir comandar “Eternos” (2021). A própria Johansson já assumiu em entrevistas que “Logan” (2017), o ocaso do Wolverine de Hugh Jackman, foi uma das inspirações para se encontrar o tom aqui. Há, também, uma crueza na trama e uma estética nas representações que lembram “Capitã Marvel” (2019).
Contudo, outra semelhança deverá tornar a experiência do filme bem menos dinâmica. Assim como fez Anna Boden e Ryan Fleck no longa-metragem de origem de Carol Danvers, há uma espalhamento da história em cenas mais longas em que as arestas sobre o passado de um novo leque de personagens precisam ser aparadas. Tanto que, além dos três familiares de Natasha, há dois prodigioso vilões, que não conseguem ser tão bem aproveitados. O montador Matthew Schmidt (que edita “Viúva Negra” ao lado de Leigh Folsom Boyd) foi muito bem em “Vingadores: Guerra Infinita” e “Vingadores: Ultimato” (2019) e parece não ter, assim como a equipe de produção, se adaptado a uma narrativa que precisa ser mais direta.
O resultado é uma ação que surge grandiosa, mas permeada por uma conjunto de novas informações que parecem bem mais maçantes quando temos um cânone de algumas dezenas de filmes. A violência é um acerto, mas a materialização na figura de Taskmaster (Olga Kurylenko, em mais um daqueles desperdícios de talento que a Marvel atrai para seus projetos) é pouco vislumbrada. Assim como as questões que envolve o exército de viúvas, que têm na figura de Dreykov (Ray Winstone) uma posição de poder que transcende as construções sociais, a partir de uma ideia que une a fantasia distópica de outras abordagens sobre a misoginia enquanto fomento ao debate – incluindo a própria filha.
Nem mesmo enquanto missão de libertação de um grupo, o longa-metragem parece engrenar, de fato. O confronto entre Dreykov e Natasha é feito com uma sucessão de conversas em que opositores perdem mais tempo contando seus próprios planos do que evitando o sucesso do outro. Um dos expedientes mais preguiçosos que costumamos encontrar neste tipo de obra. Quando a vilania se forja diante do espectador, ela é pulverizada com a mesma celeridade com a qual surgiu.
A adulta Yelena Belova, assim confirmada nas cenas pós-créditos (que ainda traz uma atriz que deveria aparecer de surpresa, mas o lançamento de “Falcão e o Soldado Invernal” estragou um pouco a ideia), parece uma promissora personagem a ganhar forma nos próximos anos da Marvel. Conta com o rosto conhecido e o trabalho talentoso da atriz Florence Pugh, que já mostrou em outros projetos ser capaz de liderar um elenco. Por fim, quem ainda anseia por uma dose caprichada de realidade deverá encher as caixas de comentários mais populares do YouTube com críticas ao CGI que torna o clímax de “Viúva Negra” tão falso quanto os efeitos visuais do cinema comercial dos anos 1980. Convenhamos que se trata de uma exigência um pouco estanha a essa altura do campeonato.
Veja o Trailer: