Sinopse: Um faxineiro é forçado a passar a noite num bizarro parque de diversões onde terá que lutar para sobreviver contra personagens animatrônicos que ganham vida.
Direção: Kevin Lewis
Título Original: Willy’s Wonderland (2021)
Gênero: Ação | Comédia | Horror
Duração: 1h 28min
País: EUA
Sem Palavras
Já dá para imaginar a reunião que envolveu a associação de Nicolas Cage em “Willy’s Wonderland: Parque Maldito“, filme que ele estrela e produz e que estreou esta semana no catálogo do serviço de streaming do Telecine. Alguém diz: “é muito legal, a ideia é te colocar em um parque de diversões por uma madrugada para que você cumpra um serviço qualquer. Só que os bonecos começam a ganhar vida e te atacar!“. Até que outro alguém, quem sabe ele mesmo, diz: “E se meu personagem, apesar de protagonista, não falasse uma palavra no filme todo?” – no que o mais animado do processo de pitching responderia: “Isso aí! Anotado!“.
Não dá para negar que o longa-metragem é divertido e parte dessa responsabilidade é colocar um astro de Hollywood em uma situação inusitada. Mesmo que o sobrinho de Francis Ford Coppola tenha ligado a roleta de aleatoriedade em sua carreira há muito tempo, sempre há espaço na indústria para nos surpreender. Os fãs de filmes independentes de ação lembrarão da participação de uma filme de Steven Seagal que, pelo que lembro, ele não possuía nenhuma fala (e a última coisa que farei é vasculhar sua filmografia). Escolhas importantes para a graça da obra, ao contrário das piadas que acompanharam o pequeno papel de Rodrigo Santoro em “As Panteras Detonando“, de 2003).
A obra dirigida por Kevin Lewis corre um risco sério de esgotamento de premissa. Alguns espectadores comprarão menos a ideia por trás das representações aqui. A referência de produções de baixo orçamento (ou, sem conotação valorativa, a estética de filme B) e o absurdo escancarado desde os primeiros minutos talvez não se sustente. Alguns acharão que “Willy’s Wonderland” traz sua possibilidade de entretenimento pela proposta exótica logo de cara e não há muito a se fazer depois disso.
Na trama, Cage (creditado apenas como O Zelador) é um homem que tem seu Mustang totalmente arreado na route 50, a autoestrada mais longa dos Estados Unidos, que liga totalmente o oeste ao leste norte-americano, após ter os quatro pneus furados pelos cada vez mais usados miguelitos. O único guincho e borracheiro não aceitam pagamento sem ser em notas de dinheiro e não há caixas eletrônicos disponíveis. Sendo assim, eles pactuam que o personagem de Nicolas passará uma noite prestando serviços no parque, o suficiente para quitas sua dívida de mil dólares.
A direção de fotografia de David Newbert dá o tom do exagero logo de cara. Apesar de não estarmos diante de uma continuação de “A Nuvem Rosa” (2021), o céu é tão modificado que chega a ter essa tonalidade. O som é um elemento bem trabalho logo de cara, com repetições usadas para demarcar a narrativa, que não conta com a voz de seu ator principal. O barulho das latas de refrigerante abrindo é o principal deles. Portanto, sob todos os aspectos o longa-metragem se vende como uma brincadeira.
Quando o zelador enfrenta um avestruz, na primeira luta da história, o cineasta se preocupa menos com a visualidade. Uma visão esfumaçada, ampliada pelo forte impacto da luz artificial dos estabelecimentos torna aquele desatino que é assistir a Cage destruindo animatrônicos que parecem fazer parte do elenco do The Masked Singer, como um desengonçado gorila em um banheiro público mais engraçado do que violento. Sobe, sempre que possível a trilha sonora de Émoi, para que a música eletrônica e moderna seja outra agente importante de desenvolvimento. Até que o protagonista decide, literalmente, vestir a camisa do parque e se colocar como protetor da própria segurança.
Depois de quase meia hora dessa trajetória incomum, talvez não haja muito o que se extrair do filme a não ser uma descompromissada sessão de final de semana. O roteiro de estreia de G.O. Parsons insere um grupo de jovens que aproximam “Willy’s Wonderland” de um teen movie de horror, dos mais clássicos aos mais alternativos (como o tesouro perdido “A Prova Final“, de 1998). Enquanto os bonecos assassinos do estabelecimento vão fazendo a limpa na garotada, o zelador segue concentrado em seu refrigerante e em uma viciante mesa de pinball.
Um herói reativo, é bem verdade. CGI pavorosos e interpertações de dar inveja a Tommy Wiseau podem ser parte do entretenimento – ou uma forma do público se afastar da obra. Tudo depende do grau de desprendimento de quem escolhe assistir Nicolas Cage em mais um filme que tenta fugir do óbvio, sem que isso se torne necessariamente uma qualidade. A personagem mais próxima do protagonismo, Liv (Emily Tosta) ganha tempo de tela quando, na metade do filme, coloca na mesa as origens daquele local em uma exposição verbal longa para as convenções criadas pela obra. Momento em que temos um indicativo que os realizadores sentiram de certa forma a carência de uma narrativa enxuta, porém substancial.
Dali em diante, teremos algo próximo com “A Prova de Morte” (2007), ao mesmo tempo que uma proposta de leitura nos faz acreditar que “Willy’s Wonderland” é uma espécie de Asilo Arkham, onde a sociedade atira aqueles que não acha digna de seu convívio para que eles se encontrem em meio ao caos. Só não contavam com a presença de Nicolas Cage que, antes de colocar um “Free Bird” do Lynyrd Skynyrd no rádio de seu Mustang, deixará o parque tão limpo quanto sua consciência, à espera de novos e absurdos projetos.
Veja o Trailer: