Sinopse: Documentário que acompanha o intercâmbio entre o artista urbano mestiço Xadalu e o cineasta da etnia Mbya Guarani Ariel Kuaray Ortega. Como parte de sua busca artística, Xadalu parte para uma imersão em território Guarani, acompanhado de Ariel. Enquanto viajam entre aldeias, Xadalu transforma em arte as vivências que tem. Após esse período, Xadalu viaja disseminando o seu trabalho pelas ruas de várias cidades. Ariel o acompanha filmando por onde passam. Xadalu apresenta a Ariel um mundo novo: o mundo da arte de rua. Unidos na mesma luta pela causa indígena, Xadalu e Ariel cruzam por lugares e experiências especiais, enquanto a relação entre eles evolui e se transforma.
Direção: Tiago Bortolini de Castro e Ariel Kuaray Ortega
Título Original: Xadalu e o Jaguaretê (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 37min
País: Brasil
Como Viver na Cidade e Habitar a Aldeia
Diones Martins/Xadalu Tupã Jekupé, artista descendente indígena que vive no sul do país vem ganhando reconhecimento por seu trabalho de enfrentamento em regiões urbanas. Xadalu cria lambes e grandes esculturas que reconectam a arte indígena aos locais hoje ocupados por carros, asfalto e poeiras bem distantes dos objetos apresentados como elos que nos transportam para uma outra compreensão do viver.
Começando por um Rio de Janeiro Olímpico Tiago Bortolini de Castro e Ariel Kuaray Ortega (que há mais de 10 anos começou a filmar com o projeto “Vídeo nas Aldeias”) indagam-se sobre dilacerante apagamento pelo qual os povos indígenas vêm passando desde a invasão. Começar pela cidade que era naquele momento observada pelo mundo inteiro, obviamente, não foi uma escolha casual.
Xadalu, entretanto, é apenas um dos lados dessa corrente que irá encontrar Ariel Kuaray como interlocutor. Dessa forma, “Xadalu e o Jaguaretê” é um filme sobre a arte dos dois, mas principalmente sobre esse encontro. Dividindo as dificuldades da produção artística indígena e a circulação dessas obras nesse mundo (que é esse nosso aqui, meio quebrado) aprendem um com um outro refletindo sobre até que ponto esticar a corda. Como chegar, como difundir, como apresentar o sagrado que se impõe nessas obras.
Parte essencial para a compreensão da arte nacional, a arte indígena brasileira se solidifica em espaços consolidados (como, por exemplo, as obras de Isael Maxakali e Jaider Esbell podem nos lembrar com dois prêmios PIPA nos últimos anos). É evidente também que o filme opta por navegar outros rios e mostrar tanto Xadalu quanto Ariel de uma maneira mais fluida. Explorando o território das Missões caminham pela formação artística e pela força do encontro de dois corpos racializados que enxergam na arte uma maneira de lutar.
Talvez as sequências nas Missões sejam algumas das mais singelas e fortes do documentário junto com a conversa na meia-luz na fogueira. Tudo que ressoa através das ruínas aparece ao espectador nas frases que parecem mais ingênuas. É aí que reavaliamos nosso conhecimento e percepção. Deitamos na arrogância de quem domina, deixamos escapar essas conversas como as que ocorrem ao longo de “Xadalu e o Jaguaretê“. É preciso olhar as ruínas com outros olhos.
Sempre é tempo de acreditar que podemos ser atravessados pela obra de Xadalu , de Ortega,Isael, Jaider e uma série de artistas que chegam para nos ensinar outro fluxo. A troca atravessa os limites que impusemos e chega até Argentina e França. Área indígena que subverte a ordem da cidade e retoma a da aldeia.
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