Leia o Artigo | A Aurora do Ano Zero, sobre a Mostra Tiradentes | SP.
Artigo | A Aurora do Ano Zero
Começou na noite de ontem a edição deste ano da Mostra Tiradentes | SP, a nona de sua história, sendo a segunda online. A forma pouco saudável com a qual a Apostila de Cinema organizou sua cobertura da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes há menos de dois meses gerou uma consequência positiva agora. Com textos críticos de todas as produções que fazem parte da programação já publicados, nossa contribuição com o evento, organizado pela Universo Produção em parceria com o Sesc São Paulo, será ampliar nosso acervo de entrevistas com os realizadores e retomar alguns pontos de diálogo entre as obras por meio de artigos.
Fazer parte de Tiradentes é uma grande responsabilidade. Estamos diante de um conjunto de filmes que são reconhecidos como parte do que há de tendência no cinema brasileiro contemporâneo. Pisar no palco da cidade mineira com seu curta ou longa-metragem em mãos traz peso à sua carreira. Já para quem faz a cobertura crítica, a certeza é de que estamos diante de algumas das produções mais importantes do ano que se inicia. Ao seu lado está boa parte de quem produz conteúdo de análise audiovisual. Há festivais que não têm a participação de um ou outro veículo, revista sobre cinema ou tem a presença de determinado crítico. Porém, todos estarão em Tiradentes.
A Apostila de Cinema, então uma plataforma bebê, trouxe nos seus primeiros meses algumas críticas sobre a Mostra Tiradentes | SP de 2020. Naquele instante, o formato online parecia uma adequação urgente, porém passageira. Fica o registro que, desde esse evento, antecedido pela 14º Cine OP, a Universo Produção comprovou ser uma das grandes empresas de seu ramo, entregando um acesso estável e seguro, mesmo com poucas semanas de preparação.
Chegamos em 2021 e o Brasil parece obrigado a conviver com o novo – que deixou de ser urgente e passageiro. Exatamente um ano após o início do isolamento social, nunca se morreu tanto de covid-19. Ao longo dos últimos dias foram mais de duas mil mortes, diariamente. Chega a ser assustador imaginar como nossa vida segue, mesmo com a notícia de que mais de dez mil brasileiros morrerão nesta semana de uma mesma doença. Em um ano, o novo coronavírus matou mais do que o vírus HIV desde que ele foi descoberto.
E seguimos.
Seguimos porque o Governo Federal viu na pandemia a oportunidade de aplicar a sua política de morte, ódio e desinformação. Somos um laboratório a céu aberto, somos o sonho de negacionistas, eugenistas, fascistas e neoliberais. A sociedade assiste este processo. Não conseguimos nos articular para sair dessa trajetória que nos destrói. Depositamos esperanças em outras esferas do Poder Executivo e nos outros poderes. Aos poucos eles se mostraram pouco diferentes do líder do país. Agora nos resta celebrar o ganho de mídia e o retorno enquanto possibilidade de um antigo líder, que virou a voz dos descontentes.
Parece que estamos vivendo o primeiro ano do resto de nossas vidas. Só que, ao contrário do filme de Joel Schumacher de 1985, não estamos nos adaptando a uma realidade pessoal – e sim à do mundo. Ou, pelo menos, à do Brasil. Sem perspectiva de melhora, uma mistura de medo com aceitação parece nos levar pelo único caminho para manter um pouco da saúde mental: compreender que ficará assim por um tempo longo e, ainda, indeterminado.
Artigo | A Aurora do Ano Zero
Chegamos, então, na Mostra Tiradentes | SP de 2021, sem saber se ela será a última em formato online. Sem espaço para futurologia ou pessimismo, não devemos esquecer do agora, das produções que fazem parte da programação. A Mostra Aurora nos traz sete delas, longas-metragens de jovens realizadores, espalhados pelo país (e, é bom que se diga, independente de sua idade). Na noite do dia 18 “Açucena” foi disponibilizado como filme de abertura às 20hs. Todas as obras possuem uma janela de 72 horas de transmissão. Portanto, o vencedor da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes, dirigido por Isaac Donato, fica no ar até às 20hs do dia 21.
“Açucena” traz o tempo como um de seus grandes elementos. É enorme seu impacto na frieza de nossas casas, na solidão de um festival em que dividimos a experiência com todo o planeta, mas no sofá (ou cadeira ou cama) de casa. Na edição mineira ela foi a primeira produção apresentada – e isso provavelmente o tornou mais assistido do que “Eu, Empresa“, por exemplo, que foi o último. Na sanha de fazer parte do evento, muitos contaram os dias para aquela abertura. Sua vitória é justa, claro, mas a pluralidade do que pudemos ver na Aurora, com o perdão do clichê, torna muito difícil falar em preferidos.
Em nossos textos você encontrará argumentos que justificam a grande qualidade dos sete filmes. Isaac Donato transforma sua construção em uma aula sobre temporalidade, nos coloca em um ambiente ritualístico, em que passivamente devemos respeitar o que acontece (premissa de quem frui uma obra, por vezes esquecida). Porém, todos os outros seis nos provocam, de outras maneiras.
Neste ponto devemos fazer menção não apenas à curadoria de Francis Vogner dos Reis e Lila Foster (ela entrevistada por nós no episódio #22 do Apostila Convida). Devemos também trazer o texto curatorial publicado oficialmente na página da Mostra Tiradentes | SP 2021. Não bastasse o conteúdo crítico pungente de nossos colegas, temos um diferencial de grande valia nas produções da Universo: uma equipe de curadoria de múltiplos talentos. Ler aquelas palavras traz um tom de soberania, tornando ainda mais difícil contribuir para o debate. Reflexo do profissionalismo e da capacidade de um grupo que, além de Francis e Lila, é formado por Camila Vieira, Felipe André Silva e Tatiana Carvalho Costa (e que serão assunto no artigo da Mostra Foco).
Artigo | A Aurora do Ano Zero
Mesmo assim, convidamos todos a lerem nossas impressões sobre os representantes da Aurora. Viajamos da sensibilidade de “Kevin” à dureza de “A Mesma Parte de um Homem“. Do suspense provocador de “O Cerco” ao experimentalismo provocante de “Oráculo“. Da aventura carregada de elementos clássicos de “Rosa Tirana” a uma comédia de forte crítica social da sociedade contemporânea de “Eu, Empresa“. Comece em “Açucena” – e vá além.
Assista também nossa entrevista com Ana Johan (diretora de “A Mesma Parte de um Homem”), que em um ano em que dezenas de mulheres se destacaram em todas as funções de produção, foi escolhida para receber o Troféu Helena Ignez. Até o dia 24, a Apostila de Cinema espera publicar entrevistas com Luana Melgaço (produtora de “Kevin”) e Melissa Dullius e Gustavo Jahn (diretores de “Oráculo”), com gravações agendadas. Estamos na expectativa de ter, além da dupla Leon Sampaio e Marcus Curvelo (diretores de “Eu, Empresa”) nosso registro com Isaac Donato (diretor de “Açucena”). Já gravado, indo ao ar no domingo às 18hs, temos uma entrevista especial com Rogério Sagui (diretor de “Rosa Tirana”).
Deixamos abaixo a lista com todos esses acessos. Mantenha-se consciente, na segurança de casa se lhe for permitido. E deposite um olhar nos trabalhos espetaculares que esse grupo de resistentes e sonhadores realizadores nos deram de presente em 2021, o ano zero de nossas vidas.
Lista de críticas dos filmes:
A Mesma Parte de um Homem
Açucena
Eu, Empresa
Kevin
O Cerco
Oráculo
Rosa Tirana
Lista de entrevistas:
Ana Johan, diretora de “A Mesma Parte de um Homem”
Gustavo Jahn e Melissa Dullius, diretores de “Oráculo”
Luana Melgaço, produtora de “Kevin”
Rogerio Sagui, diretor de “Rosa Tirana”
Clique aqui e acesse a apostila especial da Mostra Tiradentes | SP.
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