Bad Trip

Bad Trip Crítica Filme Netflix Pôster

Sinopse: Nesta comédia de câmera escondida, dois amigos pegam a estrada para Nova York e, no caminho, fazem pegadinhas hilárias com pessoas reais.
Direção: Kitao Sakurai
Título Original: Bad Trip (2020)
Gênero: Comédia
Duração: 1h 24min
País: EUA

Bad Trip Crítica Filme Netflix Imagem

Sem Riso Falso

Chegando hoje ao catálogo da Netflix, a comédia “Bad Trip” repete a fórmula que une ficcionalidade e trollagem, em uma comédia que – mesmo abusando da escatologia – consegue fazer rir. Dirigido por Kitau Sakurai, o filme contra a história de Chris (Eric André), que decide viajar da Flórida para Nova Iorque para encontrar seu amor de infância, Maria (Michaela Conlin). Ele contará com a ajuda do amigo, Bud (Lil Rel Howery), que aceita usar o chamativo carro Bad Bitch, de sua irmã Trina que cumpre pena em um presídio e é vivido pela hilária Tiffany Haddish, vencedora em 2018 do Emmy de melhor atriz convidada do humorístico Saturday Night Live.

Uma produção que criou uma inusitada situação de conflito entre plataformas. A première ocorreria no SXSW, em março de 2020. Porém, o evento foi cancelado no início da pandemia de covid-19. Por consequência, a estreia nos cinemas também foi suspensa. Só que a Amazon Prime Video, no mês seguinte, colocou por um erro o filme em seu catálogo – o suficiente para ele ser vazado. A Netflix, mesmo com uma obra disponível por vias piratas, não deixou de adquirir junto a Orion os direitos de distribuição. Por sinal, rever a logo da produtora, vinculada a MGM, na abertura desta comédia, é uma boa forma de lembrar de películas dos anos 1980 e 1990 de enorme popularidade no início da sessão.

A road trip ganha o elemento da perseguição quando a dona do veículo foge da penitenciária e descobre os planos de Chris e Bud. Essa narrativa se dá a partir de câmeras escondidas, em que todas as outras pessoas em cena possuem reações verdadeiras aos acontecimentos forjados pela equipe de produção. Quer dizer, quase todas as pessoas – e quase todas as cenas. Se há algo divertido em longas-metragens como este é analisar e se questionar quais elementos foram colocados e quão são genuínos, tanto nas caracterizações quanto nos cenários.

Sendo assim, “Bad Trip” seguirá por redutos conservadores em que confrontarão a população norte-americana com suas leituras sobre os dois homens. Passando por Geórgia e Carolina do Norte, eles criarão algumas confusões, que vão desde uma bebedeira em um bar de cowboys até as preguiçosas cenas de sustos, reflexos espontâneos de barulhos e movimentações que cercam transeuntes. Não há nenhuma inovação, esse expediente foi usado com sucesso no início do século, em filmes como “Borat” (2006) e os que levaram para o cinema a franquia “Jackass” (iniciando em 2002). É sempre bom registrar a versão brasileira dessas trollagens, materializadas no auge de popularidade do grupo de comédia Pânico.

Também nesta atração televisiva parte do entretenimento era duvidar do que era pegadinha. Nunca temos noção sobre quem está falando a verdade, um dilema extensível a qualquer produto audiovisual, por sinal. Nenhum documentário é totalmente real e nenhuma ficção é totalmente fantasiosa. Alguns ganchos na trama da obra de Sakurai remonta ao fenômeno brasileiro, principalmente quando Chris precisa negociar com um segurança a sua entrada em um evento fechado. Ao conseguir, automaticamente o espectador se questiona se, na “vida real”, isso seria possível.

O público brasileiro, viciado em rever “As Branquelas” (2004) terá especial carinho por algumas cenas, que usam o longa-metragem de Keenen Ivory Wayans como referência. No mais, usando vômitos e falsas reações a drogas ilícitas e álcool, “Bad Trip” garante a comédia rasgada. Já as sequências que criam a sensação de perigo aparente também provocam certa apreensão. Com uma difícil logística de produção, que demanda boa relação com comerciantes, autoridades e vítimas das pegadinhas, não é tão simples realizar um filme assim. Mesmo que, no final, o que nos faça rir é o ar de improvisação de uma linguagem caseira que é já deixou de ser a única opção e agora é a melhor alternativa para nos conectar a certas bobagens.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

1 Comment

  1. Para tempos de tragédia nada melhor que uma comédia. E esta entrega o que promete e mais alguma coisa. Gargalhei do princípio ao fim me controlando pra não incomodar os vizinhos altas horas da noite. A ideia não é nova, mas levada à perfeição. Eric Andre é o personagem central e dá show. É ele quem controla o meio-de-campo, dá o passe o finaliza, muito bem assessorado pela hilária Tiffany Haddish e pelo excelente Lil Rel Howery, que se identificam de tal maneira com seus papéis que em momento nenhum deixam transparecer que estão atuando. Difícil destacar uma cena e não vou ser estraga prazer com spoiler desnecessário. Mas o final, durante a exposição dos créditos, é de muitas cerejas no bolo. Direção, montagem, trilha e edição de primeiríssimo nível. Imagino que tenha sido uma produção relativamente barata, apesar de excelente. Nota 10 com louvor.

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