Céu Vermelho-Sangue

Céu Vermelho-Sangue Crítica Filme Netflix Pôster

Sinopse: Em “Céu Vermelho-Sangue”, uma mulher com uma doença misteriosa precisa revelar um segredo obscuro para proteger o filho de terroristas que querem sequestrar o avião em que viajam.
Direção: Peter Thorwarth
Título Original: Blood Red Sky (2021)
Gênero: Horror | Thriller | Ação
Duração: 2h 1min
País: Alemanha | EUA

Céu Vermelho-Sangue Crítica Filme Netflix Imagem

Mamãe É de Morte (Ah, u!)

Não adianta fugir, toda semana a Netflix bagunça o coreto de quem deseja apenas assistir aquele filme no final de semana para desanuviar a mente. Faz o mesmo com os críticos que se propõem a cobrir as estreias, criando diálogos de cinema com as produções mais urgentes e recentes. Dentro das inúmeras caixinhas algoritimizadas da empresa, “Céu Vermelho-Sangue” sai daquela de filmes de horror – em uma época que parece reforçar a tese de que o público adora odiar tais experiências. Ao contrário da trilogia “Rua do Medo” (leia a crítica da parte um aqui, leia a da parte dois aqui e leia a da parte três aqui) e do exercício de metalinguagem do italiano “Um Clássico Filme de Terror” (2021), a produção alemã parece como um caldeirão  – mas com uma voltagem mais baixa do que às obras que referencia.

Não adianta se esconder, já que o longa-metragem bebe da fonte de películas de terror que unem absurdos, como desculpa para inundar a tela de sangue. O primeiro que vem a mente, claro, é o divertido “Serpentes a Bordo” (2006). O diretor Peter Thorwarth não conseguiu atrair um nome de peso como Samuel L. Jackson para seu projeto, mas foi de Dominic Purcell mesmo – conhecido pelas séries de TV “Prision Break” (2005-2017) e “Legends of Tomorrow” (2016-). Ele é parte de um grupo de terroristas que sequestra um avião para cometer um atentado em Londres. Atravessa uma conspiração política para fazer com que o ataque seja vinculado ao islamismo, mas nenhum desdobramento desses é parte da busca na narrativa imposta.

Eu sinto o seu cheiro, o do inverossímil – ao colocar como uma das passageiras Nadja (Peri Baumeister), que está a caminho dos EUA, aparentemente, para dar continuidade a um tratamento de medula. Contado por um longo flashback de seu filho, o menino Elias (Carl Koch), “Céu Vermelho-Sangue” vira uma história de vampiro improvável depois que cria o ambiente de thriller. Atacando em várias frentes, a diversão do público dependerá de seu apego pela lógica. Será puro entretenimento apenas para quem se sente confortável no total desprezo por ela na segunda metade, quando a criatura surge.

Mas que sensação sairá disso? Para a maioria não funcionará tão bem quanto outros exemplares do gênero. Demora a encontrar seu ritmo e traz representações que não induz a viajar pelo próprio absurdo. Ou seja, de personalidade difícil, querendo sempre trazer novos elementos, suas sequências de horror são mitigadas e seu suspense pulverizado, tornando tudo menos interessante. Com direito a um comissário de bordo que incorpora o Coringa, tem de tudo no redemoinho de referências do filme. É tanta coisa que a tendência é acharmos parte delas deslocadas ou disfuncionais no desenvolvimento de uma trama que, a despeito de suas invencionices, é de premissa simples – como na já citada produção dirigida por David R. Ellis.

É uma tentação cairmos na crítica fácil de execrar “Céu Vermelho-Sangue“. Até porque algumas cenas tem um grau de constrangimento. Em uma delas, os terroristas parecem sumir da zona tripulada da aeronave e os reféns, no meio de toda aquela tensão e busca por meios de se livrarem da ameaça de morte, decidem debater as motivações do grupo e as implicações políticas daquele sequestro em curso. Momentos em que o desapego pelo verossímil não impede de perceber aquele momento como algo apenas ridículo.

Tu vais pra lá e vem pra cá, até que o clímax do longa-metragem se ergue de fora grandiosa. Mantém a falta de personalidade que não nos deixa sentir lógica, mas segue em um fluxo de representação que anseia pelo verniz de realidade. Contudo, se encontra em uma explosão épica. Chegando a todo o planeta de uma vez só, em distribuição na plataforma de streaming mais popular dentre todas, estamos diante de mais um produto que se beneficiará da internacionalização forçada de uma empresa que precisa se submeter às leis que começaram a ser editadas em países onde o audiovisual é protegido por política estatal. E desde o início da sessão fica nítida a polarização de leituras valorativas que os créditos finais trarão.

Tu vais à frente eu vou atrás, até que o drama familiar se torna mais uma ótica possível. A do filho que não desiste da mãe e da mãe que não desiste por conta do filho. Nadja não ganha passagens que façam jus à complexidade de sua construção. Uma vampira em transição, que tenta manter uma dose de humanidade quando seus instintos se tornam incontroláveis. Tanto que os seus ataques começam como uma legítima defesa, com alvos pré-definidos, sem deixar se envolver pelo monstro que começa a sair. Alguns morrem pela força de uma faca, por exemplo.

Vou decolar nesse avião, nessa crítica em homenagem ao clássico lambaeróbico de Tchakabum. Pare por aqui se você acha que qualquer coisa é spoiler, mas saiba que – em “Céu Vermelho-Sangue“, assim como na música, o avião balança, treme mas não cai. Sobe, desce, sacode, aumenta minha pressão. Se a galera canta? Depende de sua predileção sobre o gênero. Horror dos absurdos pode ser a boa pedida deste e de qualquer sábado à noite. Desce avião. Vou te pegar. Ah, u!

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *