Explota Explota

Explota Explota Crítica Filme Musical HBO Max Pôster

Sinopse: A jornada de uma jovem dançarina que luta para trazer cor a um mundo cinza enquanto persegue seu sonho de se tornar uma estrela da TV, contada através dos maiores sucessos da incomparável Raffaella Carrà.
Direção: Nacho Álvarez
Título Original: Explota Explota (2020)
Gênero: Musical | Comédia | Romance
Duração: 1h 56min
País: Espanha | Itália

Explota Explota Crítica Filme Musical HBO Max Imagem

¡Dios Mío!

Chegando ao catálogo da HBO Max, o musical “Explota Explota” é uma ótima oportunidade para o espectador, acostumado com o mainstream norte-americano e britânico, ter contato com a cultura popular de outras nações europeias. Usando estética e linguagem parecidas com produções bem-sucedidas do gênero em Hollywood, o filme escrito e dirigido por Nacho Álvarez usa as músicas da atriz e cantora italiana Raffaella Carrà, que faleceu no início deste mês aos 78 anos, como linha-mestra da narrativa.

Não apenas um expediente que remete a “Mamma Mia!” (2008) – e também a um dos pioneiros neste tipo de releitura de novos clássicos, “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” (2001). O estilo das canções apresentadas lembra e, aparentemente, vai na onda do fenômeno promovido pelo Abba na década de 1970. É no ano de 73 que somos apresentados a María (Ingrid García Jonsson), jovem espanhola que foge da cerimônia de seu casamento em Roma e volta para seu país. Lá ela é acolhida, com trocadilho, por Amparo (Verónica Echegui) – que não apenas passa a dividir seu apartamento como consegue para ela um emprego na companhia aérea.

Sua vida se cruzará com a de Pablo (Fernando Guallar), que tem uma bagagem extraviada e conta com a ajuda da nova funcionária da empresa. Ao trocar contatinhos, ela vai no trabalho do crush na TVE (um dos principais canais de TV da Espanha) e descobre que ele é um dos membros da equipe de produção de um programa musical. A abertura de “Explota Explota“, que se passa dentro do avião, nos remete às antigas transposições dos teatros de revista para os televisores. Aqui no Brasil um dos responsáveis, Mauricio Sherman, conseguiu emplacar esta abordagem por muitos anos – até ficar envelhecida o suficiente e a Globo abandonar este formato em humorístico como o “Zorra Total”.

O que pode parecer uma criação de baixo orçamento é apenas uma proposta de linguagem. A obra se sai bem ao divertir usando, sempre que pertinente, números de sucessos do passado. Uma direção de arte de qualidade garante que outras sequências, em externas, deem um ganho de qualidade visual. Quando a protagonista começa a se envolver na rotina dos bastidores da TV, o próprio cenário da produção se vale de desculpa para o musical, no que o longa-metragem dialoga mais com “Hairspray – Em Busca da Fama” (2007) do que aquele que é o maior êxito de bilheteria da carreira de Meryl Streep.

Nas entranhas da narrativa, a crítica ao conservadorismo e à repressão da Espanha franquista, de um regime ditatorial que acabaria com a morte do governante dois anos depois, em 1975. Em um país que já aguardava a reabertura democrática, os meios de comunicação se mantinham como pilares de uma resistência. Pablo, então, reproduz a censura do pai que o coloca como censor infiltrado do canal de TV. María, então, será aquela que o tirará deste eixo de uma herança de tradicionalismo enviesado, de uma sociedade que já estava bem mais a frente do que suas lideranças queriam que estivesse.

Uma forma leve e divertida de falar também de objetificação e de como esta leitura não era pauta em nações que queriam jogar para longe o ranço repressivo, em uma valorização da liberdade de expressão que o tempo permitiu problematizar. A própria personagem, criada em orfanato, sempre teve seu amor pela dança tolhido e viu que deveria ocupar um espaço que lhe seria negado, já que a oportunidade de ascensão nunca viria.

No Brasil, Rafaella Carrà é pouco conhecida, mas suas músicas embalaram gerações na Itália, Espanha e na América Latina. Para nossos vizinhos, é um importante lançamento do período pela HBO Max, chegando em um momento de despedida dela deste plano. Revolucionou a forma de levar a música para a TV e o período em que o longa-metragem se passa representa o auge de sua popularidade. Enquanto filme-homenagem, deve emocionar com facilidade.

Para nós, há uma áurea de curiosidade – e não deve agradar tanto os mais jovens porque a estrutura das canções se manteve, à exceção de uma releitura moderna de “En El Amor Todo Es Empezar“, na voz de Ana Guerra que ganha os créditos. Ultrapassado o preconceito linguístico e sendo receptivo, “Explota Explota” permite o mesmo nível de entretenimento para amantes do gênero que as inúmeras produções enlatadas que chegam em nossas casas nas plataformas de streaming similares.

Veja o Trailer:

 

Clique aqui e leia críticas de outros filmes da HBO Max.

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *