Memórias de Verão

Memórias de Verão Filme Netflix Crítica Pôster

Sinopse: Em “Memórias de Verão”, um jovem de 16 anos tenta conquistar sua paixão de infância e acaba se envolvendo em um triângulo amoroso.
Direção: Ozan Açiktan
Título Original: Geçen Yaz (2021)
Gênero: Romance | Drama
Duração: 1h 41min
País: Turquia

Confiando em Si e nos Outros

Na tentativa de internacionalizar seu catálogo com narrativas universalistas (e cumprir as legislações dos países, cada vez mais exigindo que parte da receita dos streamings retornem em investimento ao audiovisual local), a Netflix lançou ontem no catálogo a produção turca “Memórias de Verão“. Um coming of age um pouco mais sombrio e dramático do que os efusivos compilados de sequência de trilha sonora saudosista e comédia sobre a inocência do protagonista.

Por sinal, além do universalismo das tramas, outra característica parece saltas aos olhos das escolhas do serviço. Filmes que parecem guias de viagem das mais belas áreas costeiras da Europa, da gelada região nórdica até o entroncamento com a Ásia. Aqui estamos na linda Bodrum (destino badalado do país) no ano de 1997. O protagonista Deniz (Fatih Sahin) vai, com sua irmã Ebru (Aslihan Malbora) e seus pais para sua residência de verão, onde anualmente um grupo de família se encontra. Desta vez o garoto, de dezesseis anos, começa a despertar para a adolescência e todas as suas transformações – mas não o suficiente para fazer parte do grupo um pouco mais velho, que ainda o vê como objeto de piada.

O potencial turístico do lugar é explorado pelo olhar do diretor Ozan Açiktan – assim como a Ulricehamn de “Queens” (2021), a Favignana de “Na Mesma Onda” (2021) e o Forte dei Marmi de “Segurança” (2021). O cineasta adiciona um filtro um pouco amarelado, na sensação de fotografias da época, que já começam a sofrer a ação do tempo. Já no despertar da puberdade, Deniz – vindo de um processo de emagrecimento e que gosta de passar seus dias nadando – vê uma paixão ser despertada por Asli (Ece Çesmioglu). A câmera acompanha o interesse do jovem, que não consegue deixar de olhar o corpo da moça, que faz parte do grupo de sua irmã, uma geração que possui uma pressão a mais naquele verão: o resultado do vestibular.

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Não há nada na abordagem de “Memórias de Verão” que fuja da proposta de um longa-metragem desta natureza. Desde o sucesso “Verão de 42” (1971) de Robert Mulligan, o cinema gosta desta ideia de amadurecimento juvenil concentrado em um período que deveria ser de diversão e festa. Pode ser com música, como na adaptação de “Grease – Nos Tempos da Brilhantina” (1972), na dança do clássico oitentista “Dirty Dancing – Ritmo Quente” (1987) ou na atualização de narrativa pelo viés representativo, como o recente “Verão de 85” (2020), de François Ozon.

Portanto, é um filme feito para se assistir sem as amarras da busca. Não há linguagem inovadora, é heteronormativo do cabelo até os pés de Deniz, que passa todo o tempo com um corte sem pedir um esparadrapo emprestado – na luta para provar a si mesmo que aguenta as dores. Pela perspectiva masculina, poderia ser uma autobiografia de nove a cada vez meninos dos anos 90 com as mesmas características e personalidades de seu protagonista. Aplicar olhar crítico sobre o passado não é o objetivo. Soa anacrônico para nosso tempo, mas jamais será para a época na qual se projeta.

A grande dor do personagem, claro, é não ser levado a sério. Quer se inserir em um grupo que não o vê como parte dele e não percebe bem as intenções de Asil. Quando olha para o lado, encontra Ebru vivendo um relacionamento abusivo – onde exercerá o instinto de irmão protetor. Já a atenção de Asli será dividia com Burak (Halit Özgür Sari), que passa a impressão de ser melhor do que o protagonista em tudo. Sequer o pano de fundo de um ano fundamental para a história contemporânea da Turquia, o chamado “golpe pós-moderno” das forças militares é objeto, eis que parte desta fase da vida passa, principalmente nos detentores de privilégios, a ficar alheio a isso tudo.

Asli, que não tem a idade confirmada, mas é interpretada por uma atriz de trinta anos, aos poucos vai se fragilizando, se tornando uma menina bem mais próxima de Dezir do que ele imaginava quando chegou em Bodrum no início da história. A pressão por passar para uma faculdade é um dos fatores que, sem dúvida, os conectará no reencontro do próximo ano.

Por fim, “Memórias de Verão” vende bem a solução, que passa por ouvir e conversar com os mais próximos, como os pais. E, vai além, ao criar em suas engrenagens as relações de confiança para além da paixão e do romance de temporada. Para isso, é fundamental entender em quem devemos confiar – começando por nós mesmos.

Veja o Trailer.

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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