Secreto e Proibido

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Sinopse: Em “Secreto e Proibido” duas mulheres enfrentam a dificuldade de viver um relacionamento lésbico em meados do século XX.
Direção: Chris Bolan
Título Original: Secret  Love (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 23m
País: Estados Unidos

Secreto e Proibido Documentário Netflix Crítica

Amor Secreto

Em “Secreto e Proibido“, a primeira característica é a que mais se adequa ao revirarmos as memórias e as recordações das duas mulheres. Ao pensar sobre o documentário de Chris Bolan, o título original, “A Secret Love“, me parece mais adequado para falar sobre o amor entre Terry Donahou e Pat Henaschel.

O amor nasce logo após a Segunda Guerra Mundial quando ainda não era comum assumir relacionamentos homossexuais. Ainda mais para duas jovens que viam as famílias como suas maiores preocupações. A não aceitação, que ainda faz parte dos medos e dos fantasmas de grande parte das pessoas que configuram a sigla LGBTQA+, era ainda mais incisiva nessa época.

O documentário, produto original da Netflix, no entanto, é certeiro ao contar a história de cada uma de maneira individual trazendo assim personalidade, voz e vida aos corpos de Terry e Pat. Embora em algum momento a vida das duas se confunda, é importante dizer que cada uma conseguia viver com seus planos e personalidades em uma aceitação que partia delas próprias.

Secreto e Proibido” é um filme de romance à moda antiga. Vemos cartas de amor, recordações, fotos, objetos que recordam viagens, festas. Conhecemos amigos e famílias. Assim, a narrativa nos leva para mais perto da vida dessas senhoras.

Terry Donahue, ex-jogadora de beisebol canadense foi destaque na liga All-American Girls Professional Baseball League de 1946 a 1949, formada durante a Segunda Guerra Mundial, mas que se estendeu por mais alguns anos devido ao sucesso. Sua personagem, inclusive, foi adaptada para o filme “Uma Equipe Muito Especial” (1992) onde foi interpretada por Geena Davis. O relacionamento com Pat Henschel, apesar de durar 72 anos, só foi oficialmente assumido em 2015, quando as duas, já idosas, resolveram se mudar para uma casa de repouso em Alberta, Canadá.

A família de Pat, no início, resiste e os sentimentos são conflituosos. Todavia, podemos entender o motivo do segredo. Mais do que proibido, as duas buscavam se afastar de crises e intrigas que poderiam surgir a partir da revelação. Ainda que fosse evidente que a amizade ultrapassasse certas fronteiras, há algo de aura no “não dito”. É impressionante que as duas tenham conseguido viver com tanta paixão um relacionamento meio revelado, meio escondido, pois na vida das duas mais nada parece ter sido vivido pela metade. Talvez para Pat, que tem uma relação muito próxima com a família, a ideia de efetivamente sair do armário poderia parecer muito afrontosa.

É curioso pensar em como algumas questões permanecem e outras mudam. O casamento entre pessoas do mesmo sexo foi aprovado somente em 2015 em todo território dos EUA. Ainda assim, alguns casais optam por permanecer não assumidos por conta do grande preconceito que ainda vigora. Porém, diferente de outros filmes com a temática LGBTQIA+ os quais abordamos aqui como “Lemebel” (2019) e “Indianara” (2019), o documentário imprime a marca de um tempo que, apesar de não tão distante, parece infinitamente longínquo. Somente partindo da sigla podemos ver quantas questões foram incorporadas à pauta.

Em “Secreto e Proibido”, no entanto, me parece que a questão central foi mesmo um medo de perder o afeto familiar que sempre foi tão caro à Pat. E, ainda que Terry desse força, foi somente quando percebeu que a companheira estava à vontade com a questão, que o casal resolveu assumir o casamento de 72 anos. E, alguém pode falar que não foi um casamento desde o início?

As questões reviradas pelo documentário, além de nos proporcionarem lindas cenas de carinho, nos ajudam a compreender algumas feridas que fazem com que muitos corpos ainda hoje não se sintam capazes de revelar o amor. Em tempos nos quais precisamos tanto de compreensão quanto de amor “Secreto e Proibido” aparece como um ensinamento de duas senhoras que viveram muito e sabem muito bem o que importa na vida.

Veja o trailer:

Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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