Sinopse: A saga de cerca de 60 mil brasileiros enviados para a região amazônica pelos governos do Brasil e dos Estados Unidos durante a segunda Guerra Mundial em um mirabolante plano para extrair látex, material estratégico imprescindível para a vitória dos Aliados. As promessas da volta para casa como heróis da pátria e da aposentadoria equivalente à dos militares nunca se cumpriram. Hoje, centenas deles, já em idade avançada e em situação de pobreza, esperam o dia do reconhecimento oficial.
Direção: Wolney Oliveira
Título Original: Soldados da Borracha (2019)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 22min
País: Brasil
Oportunidades e Oportunismos
“Soldados da Borracha” é apresentado na 9ª Mostra Ecofalante de Cinema após passagem pelo Festival É Tudo Verdade do ano passado. O documentário dirigido por Wolney Oliveira resgata a história de mais de 60 mil brasileiros atraídos para a região da Amazônia com o objetivo de extrair látex fundamental para a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. O resultado: genocídio. Muitos criticam um suposto exagero ou deturpação da palavra. Mas o que dizer de um fato que vitimou mais da metade daqueles que acreditaram no sonho do progresso, com a contribuição das Forças Armadas que os equiparavam a soldados na missão de salvar o Brasil da ameaça nazi-fascista?
Um processo de migração que não informava aos trabalhadores o que eles encontrariam do outro lado. Alguns depoentes tentam se convencer de que o sofrimento e a falta de reconhecimento valeu a pena, visto que o caminho natural de suas vidas o levariam a conviver com uma forte seca, que perdurava por três anos na região Nordeste. Os Estados Unidos elevou a região amazônica à área estratégica, visto que 90% da borracha produzida no mundo estava na mão do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Veríamos uma sessão imediatamente posterior na mesma Mostra que tocava na importância na economia norte-americana do produto (o documentário “Breakpoint: Uma Outra História do Progresso“), um processo que revolucionou os meios de transporte, elevou o automóvel ao patamar de grande astro e levou a uma dependência da borracha.
A Segunda Guerra foi em parte sob rodas e “Soldados da Borracha” revela o início do processo globalizante das relações comerciais. O Presidente brasileiro da época, Getúlio Vargas, saiu de cima do muro quando Theodore Roosevelt lhe propôs esse acordo. Uma medida imperialista pelo lados dos EUA e um pouco precipitada por parte nossa. Flagrantemente éramos uma nação que não tinha conhecimento e domínio de sua Geografia e, no afã de ser uma importante peça da poderosa engrenagem da guerra, abandonou os seus à própria sorte.
Além das condições precárias, que levaram a milhares de vítimas, o documentário ainda traz uma realidade que nunca deixou de existir no interior do Brasil. Um sistema de contratação de trabalhadores análogo à escravidão, baseado na antecipação de recebidos em moradia e alimentação. Sem qualquer tipo de fiscalização, esse pagamento in natura acabava gerando uma dívida por parte do funcionário ao final do ciclo. O Exército prometia a equiparação dos soldados da borracha ao cargo de Segundo Tenente das Forças Armadas, o que jamais ocorreu. Muitos depoentes revelam a frustração não apenas pelos danos físicos e econômicos. Sentem muito chegaram à velhice e não tiveram o reconhecimento da atuação fundamental na vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial.
Falando em vitória, “Soldados da Borracha” ganha força em seu trecho final, que traz um Vitória de Pirro, com a promulgação da PEC dos Seringueiros. Aqui a reparação em relação ao apagamento histórico também se mostra insuficiente para aqueles senhoras. O documentário se encerra com o desabafo de um deles, verdadeiro brasileiro, aquele que teve que se reinventar para sobreviver até os 90 anos e não se dobra a uma medalha, algumas palmas e menos da metade da verba de gabinete de um Deputado como indenização. Somos muito mais do que isso.