Já falamos sobre o projeto TV Coragem, de Lorran Dias, quando da cobertura do IMS Convida (que possui apostila própria no Apostila de Cinema). É possível que ele ainda apareça algumas vezes por aqui. Cada vez que surge um novo vídeo, corremos para a TV emulada por Dias, a fim de uma nova experiência sobre o isolamento. O terceiro episódio de “Corpo-Domicílio“, a parceria entre a fotógrafa Willssa Esser e a atriz Grace Passô, por exemplo, nos alça a um novo grau de claustrofobia e, para quem está presa dentro de casa desde meados de março, isso é muito.
Em, “O Segundo Antes da Coragem”, um vídeo experimental no qual o áudio distorcido anuncia a angustia porvir, a falta de imagem inicial não é o que incomoda, mas o som distorcido, quase ruído. QUASE. E, talvez, esse quase nos cause mais aflição. Assim, nessa QUASE vida, transfigurada a partir das distorções auditivas, mas também visuais, o sentimento é de desespero.
Já não sabemos se o quase nos indica à multiplicidade, como em um caleidoscópio ou ao desfazimento do corpo. O Segundo Antes da Coragem pode ser também o O Segundo Após a Coragem? O que há no segundo antes do aparecimento do rosto desfigurado de Passô e no segundo após esse rosto desaparecer?
Fico pensando no nascimento das galáxias, que surgem de uma explosão e morrem em uma colisão ao se fundir com outras, como um grande renascimento. Que tipo de experiência temos nessa redoma espelhada criada pelas artistas tal qual um aquário no qual sons e imagens repetidas são vislumbradas?
Seria algo semelhante ao anteceder de uma vida – de nossa própria vida? – ou algo semelhante ao prenúncio da morte?
De qualquer maneira, para nascer, para viver e para morrer, é preciso ter coragem.
Será que algum dia iremos nos fundir?
VEJA O EPISÓDIO 3 DA SÉRIE CORPO-DOMICÍLIO: