Sinopse: Em “Um Casal Inseparável,” Manuela (Nathalia Dill) é uma determinada professora e musa de vôlei de praia que sempre está pronta para defender seus ideais. Ela nunca pautou sua felicidade a um relacionamento e nunca planejou se casar. Porém, um dia, inesperadamente conhece o romântico Léo (Marcos Veras), um pediatra bem-sucedido, e se apaixona, mas circunstâncias da vida os separam. Em meio a brigas e saudades, e com a ajuda da manipuladora Esther (Totia Meireles), mãe de Manuela, os dois vão descobrir se são mesmo inseparáveis.
Direção: Sérgio Goldenberg
Título Original: Um Casal Inseparável (2021)
Gênero: Comédia | Romance
Duração: 1h 35min
País: Brasil
Pé na Areia
Não faz sentido aqueles que acham que o tipo de narrativa explorada por “Um Casal Inseparável” se esgotou irem contra a indústria audiovisual brasileira. Afinal de contas, a Globo Filmes é uma grande player do mercado, empresa sediada e com quase todos os seus talentos no Rio de Janeiro e possui braços de distribuição e exibição – cada vez mais relevantes com o crescimento do streaming, sendo possível que o filme seja muito mais assistido no catálogo do Telecine do que na apresentação regular na TV a cabo. A RioFilme já deu demonstrações de que não deixará de olhar para histórias como a desta comédia romântica ambientada na zona sul em seus editais de fomento. Com o desmonte a nível nacional e o reocupação do cargo de Prefeito por Eduardo Paes, nosso malvado favorito, a distribuidora volta a ter perspectiva de se tornar mais forte.
Isso não impede que tentativas de atualizações das representações sejam feitas. O diretor e roteirista Sérgio Goldenberg se esforça, em uma pequena desconstrução da protagonista Manuela, vivida por Nathalia Dill. Uma parcela de releitura que dura pouco mais de cinco páginas e se constitui na tentativa de autossuficiência da personagem e da liberdade de perceber relações como entender melhor. Seus pais, Esther (Totia Meireles) e Isaías (Stepan Nercessian) se caracterizam por terem as mentes abertas, sem deixarem de se preocupar com o futuro da filha.
Situações do cotidiano da bonita orla de Copacabana coloca a moça em contato com Léo (Marcos Veras). Um pediatra em ascensão na carreira, também disposto à fluidez dos relacionamentos, apesar de um comportamento bem mais envelhecido, como o hábito de ouvir CDs em seu carro. Manu, acostumada com as areias onde é professora de vôlei, tem sua gag ao tentar se equilibrar nos sapatos de salto. E pronto, dali em diante seguiremos o caminho tradicional do amor que nasce, cresce, morre e renasce. Os desencontros da vida, com uma parcela de culpa do destino e outro do orgulho de quem os cultiva com vontade demais.
Enquanto texto, “Um Casal Inseparável” possui a mesma profundidade de um encontro casual nas praias cariocas. Aquele amigo de muito tempo que você senta no quiosque e ouve histórias do colega de trabalho que também estava por ali. Na resenha, como dizem hoje. Então, você o aconselha, sem entender muito bem se aquele caso foi aumentado ou diminuído pelo narrador, com o propósito de exercitar sua empatia. Sendo assim, o melhor é se valer de frases feitas, repetir jargões e torcer para que tenha ajudado de certa maneira. Todos os personagens que transitam pelo filme são um pouco do desconhecido cheio de boas intenções de Manuela e Léo (apesar de serem seus familiares e amigos mais íntimos).
A montagem do longa-metragem aplica uma linguagem que mistura dois elementos. O primeiro é comum às chanchadas dos últimos quarenta anos, “rejuvenescidas” com o tempero do Rio de Janeiro nos anos 1980 – e dali em diante nunca mais parou. Saca de vez em quando uma canção popular, da releitura de um samba poético de Martinho da Vila a sucessos do momento da Iza ou dos Barões da Pisadinha. O segundo elemento traz uma dinâmica híbrida e se vale de trilha incidental e outros sons e cortes secos que aproximam a obra de uma comédia mais portenha, um latinidade que a Globo instiga menos acreditando que temos aqui uma forma de fazer diferente – e que Roberta Mathias percebeu em outra produção do país em cartaz no Telecine, “O Último Jogo” (2020).
É até interessante acompanhar essa dupla personalidade, apesar de ser provável que o espectador-médio entenda esses artifícios incorporados de maneira exagerada ou até cansativa. A dupla Totia e Stepan são o alívio cômico esperado para uma trajetória de protagonistas que engessam os trabalhos de Marcos e Nathalia. A melancolia de um relacionamento que vai se esvaindo pela incompatibilidade de agendas é pouco explorado, apesar de um flerte promissor com obras mais indies do cenário carioca como o seriado “Do Amor” (2012-2014) – o que nos levaria, uma década depois do texto defendido por Maria Flor, de alguma animada canção de Arnaldo Antunes para dramas mais pesados (ou desafios maiores) como uma balada de O Terno.
Por fim, “Um Casal Inseparável” é, mais uma vez, aquilo que se propõe. Uma história de desencontros, salpicadas com algumas piadas que funcionam e que quase chega ao fim da maneira como a turma do sofá gosta de ver os globais se entendendo: em uma super dança dos famosos. Se você é daqueles que levanta a bandeira “tem que acabar”, pode tirar seu cavalinho do sol ardente de Copacabana: a globochanchada que nasceu no new wave e teve em Roberto Berliner da TvZero (uma das coprodutoras) um de seus desenvolvedores, parece ter muito fôlego ainda.
Veja o Trailer: