Exilados do Vulcão

Exilados do Vulcão Paula Gaitán Filme Crítica Pôster

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Sinopse: Ela conseguiu salvar do incêndio uma pilha de fotografias e um diário com frases escritas à mão. Estas palavras e rostos são os únicos rastros deixados pelo homem que ela um dia conheceu e amou. Cruzando montanhas e estradas, ela tenta refazer os passos dele. Os lugares que ela visita carregam pessoas, gestos, lembranças e histórias que, pouco a pouco, se tornam parte de sua vida.
Direção: Paula Gaitán
Título Original: Exilados do Vulcão (2013)
Gênero: Experimental
Duração: 2h 5min
País: Brasil

Exilados do Vulcão Paula Gaitán Filme Crítica Imagem

A Impossibilidade da Volta

Dentre as narrativas construídas a partir de uma fluidez imagética de Paula Gaitán, “Exilados do Vulcão” talvez seja a obra com maior poder de identificação – mesmo àqueles não adeptos das experimentações audiovisuais. Talvez essa sensação seja reflexo do fim de uma maratona insana na cobertura da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Assim como “Ostinato” foi escolhido como filme de abertura – e a Apostila de Cinema já havia assistido a “Valentina” – artificialmente fizemos com que a cineasta homenageada também fechasse o ciclo das produções selecionadas para o festival.

Isso fez com que se reforçasse a ideia de que Gaitán nos leva, na verdade, aos caminhos dos sentidos em confluência. Nos outros textos que produzimos sobre os filmes apresentados na mostra tentamos traçar os paralelos biográficos e as influências de sua criações dentro do ramo das artes visuais. Aqui nos permitimos ser mais autoindulgentes, compramos a ideia de um mundo que se abre a partir da leitura e da escrita – usando o diário, companheiro traiçoeiro da jornada de muitos. Se em “Noite” a diretora nos levou por uma viagem a partir dos sons – potencializada com o abandono da imagem em “Ópera dos Cachorros“, ela quase nos permite sentir o toque daquela caminhada em “Se Hace Camino al Andar“.

Em “Exilados do Vulcão“, não. Ela parte de uma narrativa que se constrói a partir da produção de palavras – mesmo que, em boa parte do tempo, elas não estejam lá. Assim como em “Diário de Sintra“, as fotografias têm seu protagonismo, mas o olhar do espectador é fundamental para dar sentido a elas. Mais do que um compilado de páginas em branco que costumamos preencher com percepções sobre a nossa realidade, Paula nos revela outras fontes possíveis daquelas anotações. Frases que cruzam nossos caminhos convivem lado a lado com ideias soltas.

Nesses últimos meses de abandono da sociedade enquanto organismo pulsante (ainda que permaneça viva), deixei de fazer muita coisa vinculada ao “estar” fora de casa. Outro dia descobri que uma das rádios que ouvia no trânsito acabou – e me dei conta que não sintonizo nenhuma estação há muito tempo. Ou seja, perdi boa parte dos hábitos vinculados a uma rotina dinâmica. Manter ao meu lado um caderno de anotações, entretanto, não foi um deles.

Ter acesso a esse filme de 2013 me fez lembrar de outra possibilidade muito bem explorada a partir de um diário. “Meu Pretzel Mexicano” foi um dos grandes filmes assistidos em 2020. Gaitán, contudo, transporta as mesmas impressões da obra que inspirou “Exilados do Vulcão”. O livro “Sobre a Neblina”, romance de estreia de Christiane Tassis, também se propõe a ser algo próximo de um mosaico de espaços e mentes. Quase como um fluxo de pensamento, expediente usado em algumas das grandes obras de Virginia Woolf. A cineasta aplica essa ideia usando o que o audiovisual tem a acrescentar: a imagem.

Desta forma, o longa-metragem trata não apenas do registro de memórias – e da possibilidade de perdê-las, como tem um leve toque de cartografia. As fotografias se unem ao quebra-cabeça que nos leva a transitar por um espaço urbano em constante transformação. “Exilados do Vulcão“, com seu ritmo que nos deixa estacionado na experiência da contemplação e do deslumbramento (que a diretora elevou à máxima potência com a obra-prima “Luz nos Trópicos“) parece querer nos dizer que não há caminhos de volta – por mais que os busquemos incessantemente. Não é a notícia que gostaríamos de receber em um longo período de experiências forjadas entre as paredes de nossas casas – mas é o triste recado que mais um festival online nos deixa.

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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